No dia 13 de novembro de 2019, os alunos da turma de “Oceanos e Vida Marinha” com o seu professor, o Comandante Jorge Almeida Santos, foram visitar o “Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos”. À nossa chegada estava o seu atual proprietário, o Mestre Jaime Costa, que em 1957 o seu pai comprou este estaleiro numa época em que a construção naval era uma atividade florescente. Com o declínio do transporte fluvial, o estaleiro deixou de estar vocacionado para a construção de embarcações tradicionais do Tejo e a sua atividade passou a incidir na recuperação e manutenção de diferentes tipos de barcos de recreio, entre os quais se destacam os das Câmaras Municipais.
Este estaleiro é o único a trabalhar em madeira no estuário do Tejo, na região, na recuperação de embarcações tradicionais em madeira onde ainda é possível construir uma embarcação tradicional (de raiz), utilizando as técnicas ancestrais. É um “museu vivo” que merece ser divulgado e visitado.
O Mestre Jaime explicou de forma clara e esclarecedora todos os passos, que estão divididos em várias salas, onde podemos ver o lugar onde a madeira fica a secar, a área de construção e recuperação, a Sala de Risco (onde os mestres traçam o desenho das peças), a Caldeira, o Plano Inclinado, o Armazém e a Serração das Madeiras, a Calafetagem, a Oficina de Serralharia, a Praia e Cais de Acostagem para as Embarcações. Criou também um núcleo expositivo com peças antigas da carpintaria naval artesanal.
Começou a trabalhar no estaleiro com 12 anos e sempre ao lado do pai, agora conta com uma equipa de excelentes profissionais (quatro carpinteiros, um calafate, um pintor e um aprendiz). Como já se aproxima da idade da reforma, o seu objetivo é captar gente mais nova, e algumas pessoas já estão a aprender a profissão. Segundo ele diz os mais novos têm sido uma ajuda na resposta às solicitações de reparação e construção de barcos tradicionais que surgiram nos últimos tempos e que permitem contratos a médio prazo.
O Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos constitui um valioso legado patrimonial, que inclui um vasto espólio material, instrumentos e ferramentas, bem como um conjunto de saberes e de técnicas tradicionais de trabalho, utilizadas pelos seus carpinteiros navais, calafates e pintores na recuperação/construção das embarcações tradicionais do Tejo.
Os barcos tradicionais do Tejo que podem ser construídos neste estaleiro são:
- Fragatas
- Varinos
- Faluas
- Cangueiros
- Botes
- Canoas
- Catraios
- Muletas
Construíram uma réplica do Bote “Leão” para a Câmara de Alcochete, (a original foi construída em 1781), é uma das embarcações tradicionais do Tejo; nesta construção usaram madeiras de pinho manso (madeira muito resinosa, dura e impermeável) e pinho bravo, sendo estas madeiras escolhidas por ele, no pinhal da Serra de Sintra ou em Alcácer do Sal; só olhando para as árvores ele diz que este é aquela parte do barco.
Agora têm em mãos um outro desafio, a construção de uma Muleta (uma invulgar embarcação portuguesa, caída em desuso em finais do século XIX; Embarcação de pesca de arrasto à vela, aparelhava uma arte de rede de arrasto pelo fundo em forma de saco, chamada arte de tartaranha).
É um barco tradicional do estuário do Tejo que há cerca de um século deixou de ser construído e parou a sua atividade de pesca por volta de 1930.
A réplica que estão a construir baseia-se no arquivo e gravuras de um livro do Museu da Marinha e é para a Câmara Municipal do Barreiro. Foi esta embarcação que nós vimos no estaleiro.
Existe também um Percurso Interpretativo no Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos que através da instalação de painéis interpretativos permite a compreensão da construção naval em madeira